BRASÍLIA, 9 Out (Reuters) - A maioria dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) votou nesta terça-feira pela condenação
do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e do ex-presidente do PT
José Genoino por corrupção ativa na ação penal do chamado mensalão.
Dirceu é apontado pela denúncia do Ministério Público
Federal (MPF) como "chefe da quadrilha" responsável pelo esquema de
desvio de dinheiro público para compra de apoio parlamentar ao governo
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelado em 2005.
Genoino era presidente do PT na época do escândalo.
Ambos, ao lado do ex-tesoureiro Delúbio Soares, também condenado,
formariam o "núcleo político" do esquema.
A defesa do ex-ministro alegou que não há provas nos
autos processo que justifiquem sua condenação. Dirceu renunciou ao cargo
na esteira do escândalo e retomou seu mandato de deputado federal, à
época, mas foi cassado por seus colegas.
A ministra Cármen Lucia, que condenou os três,
reconheceu não haver provas documentais contra Dirceu, mas ressaltou que
os depoimentos comprovam "respaldo" que Delúbio teria do ex-ministro.
"Não há nenhum documento assinado por ele (Dirceu) que
levasse à comprovação que ele teria praticado os atos referentes à
corrupção ativa que lhe são imputados", disse ela.
"Entretanto, a partir das próprias declarações de
Delúbio Soares... toda fala de Delúbio é no sentido de que ele tinha
respaldo."
O ministro Marco Aurélio Mello também usou diversos
depoimentos para apontar a participação de Dirceu, que seria quem "batia
o martelo" e "homologava todos os acordos" do partido.
"José Dirceu realmente teve uma participação acentuada, ao meu ver, nesse escabroso episódio", disse o ministro.
A condenação do ex-ministro se deu por seis votos. O
relator Joaquim Barbosa e os ministros Rosa Weber e Luiz Fux já haviam
votado nesse sentido. Nesta sessão, o ministro Gilmar Mendes seguiu este
voto, além dos ministros Cármen Lúcia e Marco Aurélio.
O revisor, Ricardo Lewandowski, e o ministro Dias
Toffoli, que trabalhou com Dirceu no início do governo Lula, foram os
únicos a absolver o petista.
Em mensagem em seu blog, Dirceu reagiu à condenação e disse ter sido vítima de prejulgamento.
"Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver.
Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até
provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater",
disse.
Apesar de seis dos 10 ministros da Corte já terem
votado pela condenação de Dirceu, ela só será confirmada com a
proclamação da sentença, já que até lá existe a possibilidade, ainda que
remota, de os ministros reverem seus votos.
"PRÁTICA DO NÃO SABER"
Os ministros Cármen Lucia e Marco Aurélio foram duros
ao rejeitar a defesa de Genoino, que apontou a história de vida do
petista para rebater as acusações, e disse que ele desconhecia o
esquema, já que era responsável apenas por decisões políticas, ficando
distante das finanças do partido, sob o comando de Delúbio.
"No Brasil há essa prática, de nada se saber, pelo
menos notada nos últimos anos", disse Marco Aurélio, que pediu ser
poupado da tese da "história de vida de ingenuidade".
"Ele não sabia de nada que ocorria para, em passe de
mágica, o governo ter o apoio que logrou ter no Congresso Nacional",
disse o ministro, que citou o sucesso na reforma da Previdência, que já
havia sido tentada no governo anterior, do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), segundo ele.
Genoino foi absolvido apenas por Lewandowski, e
condenado pelos demais ministros que votaram. Marco Aurélio disse que
alegar não haver elementos para condenar o ex-dirigente "é um passo
demasiadamente largo".
A ministra Cármen Lucia também rebateu a defesa de
Genoino, ao dizer que não estava "julgando histórias", já que estas, às
vezes, são feitas "com desvios que seriam impensáveis".
"CAIXA DOIS É CRIME"
A ministra destinou a maior parte de seu rápido voto a
Delúbio Soares, único réu confesso, o de caixa dois eleitoral, tese
defendida por outras defesas no processo. Ela disse ter sentido
"profundo desconforto" com a admissão do crime pela defesa de Delúbio.
"Alguém afirmar que houve ilícito, como se viu aqui, é
algo inusitado e inédito na minha vida profissional", disse a ministra,
que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Acho estranho e muito, muito grave que alguém diga com
toda tranquilidade ‘houve caixa dois'. Ora, caixa dois é crime, caixa
dois é uma agressão à sociedade brasileira", disse ela.
"A ilegalidade não é normal... O ilícito há de ser processado, verificado e, se comprovado, punido."
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